Wednesday, August 29, 2007

É por isto que eu não acredito no sistema de juris...

Hoje tive uma palestra entitulada "Leadership and the Law", dada por um professor aqui do MIT que era anteriormente sócio de uma firma de advogados famosa em Boston, especializada em direito corporativo. Às tantas, o professor começou a falar de um caso (sobre a fuga de gás de uma fábrica química em Bhopal, Índia, que matou milhares de pessoas em 1984) sobre o qual teoricamente teriamos tido algum material de preparação para ler (nomeadamente o acórdão de um tribunal americano relativamente à jurisdição onde julgar o caso).

O professor fez apenas uma apresentação factual do caso para os alunos que não o tinham lido, sem fazer qualquer espécie de juízo de valor sobre ele, mas pela maneira como o apresentou (como se a plateia fosse um júri), com a teatralidade que colocou em todas as frases e palavras, eu fiquei com a sensação clara que eu, uma pessoa relativamente bem informada sore o assunto (devido ao que tinha lido) acreditaria em pleno em qualquer ponto que ele estivesse a defender. Imagino o que o indivíduo médio que faz parte de um júri seria capaz de fazer face àquela argumentação.

Ao menos os juízes, que têm que aturar com aquilo todos os dias, já devem ter um grau de imunidade mais apurado e saber filtrar melhor a bull-shit.

Monday, August 27, 2007

Massachussets - red state ou blue state?

Ou a história de como eu pensava que um estado da costa Leste era mais avançado do que na realidade é.

Sempre achei um bocado estranho como o estado do Massachussets (MA) podia ser considerado um estado liberal (no sentido americano do termo, não no sentido europeu), dada a quantidade de "old money" que por aqui existe e a origem puritana dos seus residentes iniciais, mas atribuia essa imagem à quantidade de jovens que se deslocam a todo o estado (e em particular à zona de Boston) para estudar. Desde que cheguei já assisti a muitas coisas que contrariam essa imagem(especialmente no que concerne às leis que governam a compra e consumo de álcool) mas o que assisti hoje bate tudo.

Algumas leis, tais como a idade minima de 21 anos para beber (verificada com bastante frequência em bares, discotecas, etc.) e a proibição de beber na rua são frequentes a todos os estados, mas algumas coisas são bastante específicas. Comprar álcool em si não é nada fácil (a maioria dos supermercados não o tem e quando tem é apenas cerveja e vinho) e chegam ao cúmulo de ter tarifas de importação para vinhos domésticos (basicamente, cada garrafa de vinho vindo da Califórnia tem uma taxa destinada a proteger os produtores de vinho locais), algo inimaginável na União Europeia e que nunca pensei que pudesse ocorrer dentro do mesmo país! Quando muitos habitantes locais começaram a deslocar-se ao New Hampshire* (lembrem-se: live free or die) para comprar álcool qual foi a resposta do estado? Sobrevoar a fronteira com helicópteros para detectar os carros com matriculas do MA estacionados em frente a lojas de bebidas para os mandar parar, inspeccionar os carros e multar (a situação tornou-se de tal modo ridícula que o NH mudou o formato das matrículas para ficar parecido com as do MA para tornar impssível a distinção pelo ar).

Quando tentámos organizar uma festa de comida/bebida internacional num dormitório deparámo-nos com uns problemas para obter autorização para ter álcool (os passos pelos quais é preciso passar são mais que muitos) mas eu pensei que uma escola inteira da universidade (no caso, a Sloan), no seu banquete de recepção aos novos alunos, se conseguisse safar melhor. Então não é que no decorrer de um New England Clambake organizado debaixo de uma tenda gigante no meio do campus (basicamente lagosta e bebida à borla) aparece a polícia do MIT e manda encerrar o bar (nem sequer permitia às pessoas beber garrafas de água) e basicamente dispersar todas as pessoas?

*Uma coisa engraçada sobre o NH: a auto-estrada principal que que liga o MA ao NH é uma auto-estrada "à espanhola", em que basicamente qualquer pessoa que precise de pôr gasolina ou verter águas tem que sair da estrada e entrar na povoação mais próxima. A única excepção? Uma loja de bebidas pertença do estado do NH uns quilómetros antes da fronteira com o MA, que ficava mesmo na beira da estrada.

Sunday, August 26, 2007

MIT - there's no place like it in the world

Estar a tirar um MBA na Sloan School of Management, mais do que apenas estar a frequentar uma boa business school, é uma oportunidade unica de fazer parte de uma comunidade extraordinária (o MIT como um todo) que pura e simplesmente transborda de criatividade, imaginação e, mais importante do que isso, técnica.

Ler na internet antes de vir para cá um historial das melhores hacks (uma espécie de partidas muito específicas) já me deu uma ideia de que maneira o lema do MIT, mens et manus - mente e mão - é posto em prática. Uma visita guiada a alguns laboratórios do Departamente de Aeronáutica e Astronáutica (incluindo uma passagem pelo Wright Brothers Wind Tunnel) confirmou algumas ideias que eu tinha (o professor passava a vida a dizer dos alunos, incluindo alguns do segundo ano, coisas do género: "eu não sei onde é que eles vão buscar aquelas ideias, a gente diz-lhes que aquilo não pode funcionar mas os gajos constroem aquilo e a verdade é que aquela porcaria funciona") mas nada me preparou para o que eu vi hoje no regresso do metro para casa.

No relvado em frente a East Campus (um dos dormitórios mais sociais para undergrads) um grupo de alunos do EC decidiu montar uma feira/parque de diversões gratuito totalmente artesanal, feito de madeira, para comemorar o novo ano lectivo.
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Basicamente, um pequeno grupo de estudantes (presumivelmente de engenharia) desenhou, projectou (esperemos...) e construiu uma série de diversões (algumas potencialmente perigosas) e, mais importante do que isso num país como os EUA, conseguiu permissão dos tipos da health and safety (sempre era preciso assinar uma waiver que mais não era que uma folha de abaixo-assinado e que dificilmente teria algum valor jurídico, mas enfim...). As diversões iam de coisas tão "simples" como escorregas de altura variável e piscinas de esferovite a aparelhos tão complexos e potencialmente letais como giro-coisos (ver foto abaixo) e eram acompanhadas de um espectáculo laser artesanal projectado nas paredes de um edifício alto do campus que se encontrava por perto.
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Infelizmente hoje os que pareciam mais divertidos estavam muito cheios ou encerrados mas ainda deu para andar numa roda gigante, tipo rato encaujulado.
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Este sim é um amazing set of truly remarkable people. Não admira que saiam desta universidade tantas empresas.

Sunday, August 19, 2007

Passeio pela montanha

Acabei de regressar de uma viagem, organizada por alguns alunos do 2 ano, a umas montanhas no New Hampshire (a cerca de 3 horas e meia a Norte de Boston) onde fomos fazer montanhismo (mais concretamente, subir ao monte Mooselauke). Foi basicamente um fim-de-semana divertido a caminhar, beber cerveja e jogar as cartas/Trivial/Tabu/... (nao em simultaneo)

O New Hampshire e um estado a norte do Massachusetts bastante interessante. Comparado com o puritano Massachusetts e bastante liberal em muitas coisas, o que ocasionalmente e razao para disputa com os seu vizinho a sul. As leis sobre consumo de alcool sao menos restritivas (apesar da idade minima ainda ser 21) e o lema do estado (orgulhosamente representado em todas as matriculas) e "Live Free or Die" (se bem que pela maneira como os seus habitantes conduzem devesse ser "Live Free AND Die"). E conhecido como um estado de amantes do ar-livre, o que e compreensivel, uma vez que desde que cruzamos a fronteira do estado ate ao momento em que chegamos a estalagem (quase duas horas) nao vimos nada senao floresta e rios quase intocados (floresta a serio, nao os amontoados de pinheiros e eucaliptos que se ve em Portugal).

O "resort" onde ficamos hospedados, na face da montanha (longe da civilizacao, aka rede de telemovel), pertence a Universidade de Dartmouth (uma das universidades da Ivy League, conhecida pela paixao dos seus membros pelos "great outdoors") e os funcionarios (pelo menos durante o Verao) sao alunos da universidade. As instalacoes sao, no minimo, rusticas - uma cabana de madeira principal, com sala de refeicoes no piso de cima e sala de estar/jogos/biblioteca com lareira e casas de banho no piso de baixo e 3(?) cabinas com quatro quartos cada uma e 8 pessoas por quarto (dois beliches triplos e uma cama de casal). As cabanas tinham electricidade mas nao canalizacao, pelo que alguem que tivesse vontade de ir a casa de banho durante a noite tinha que tentar a sua sorte com os ursos.

As refeicoes "estilo comunitario" (dois jantares e dois pequenos-almocos) e o almoco preparado para a caminhada variaram entre o aceitavel e o extraordinariamente bom (claro destaque para o pao caseiro - o unico pao decente desde que aqui cheguei - e os croissants com doce, assim como a sopa de tomate).

A caminhada ate ao topo do monte (que esteve quase a ser cancelada por causa do mau tempo) e considerada intermedia, sendo basicamente um trilho de rochas (e alguma lama) pelo meio da floresta. Estou certo que a vista era linda mas, infelizmente, no caminho a unica coisa que conseguia ver eram os meus proprios pes (tinha que ter muito cuidado onde os metia) e do cume nao se conseguia ver nada, por causa das nuvens. Acabamos por subir ao pico sul (o mais baixo) uma vez que os ultimos 800 metros do caminho para o pico norte eram a descoberto (sem proteccao das arvores) e com o vento que estava (era quase impossivel ficar de pe no pico sul) a temperatura sentida aproximava-se dos 0 graus fahrenheit (-10 celsius, mais coisa menos coisa - nada bom para quem estava de fato de banho, como eu!).

No total foram um pouco mais de 10 quilometros ida e volta (variacao vertical de 600-700 metros). Quando cheguei a estalagem so conseguia pensar em cenas de filme, com o staff a embrulhar-nos em cobertores junto a lareira enquanto bebiamos chocolate quente e nos preparavamos para jantar e nem queria acreditar que so eram duas e meia da tarde (e portanto so se tinham passado quatro horas). Ainda me doem os joelhos.

P.S. - fiquei desiludido com o facto de nao ter visto vida selvagem interessante (um grupo que levou um carro a meio da noite para buscar mantimentos vitais - i.e. cerveja - afirma que viu um urso bebe no meio da estrada de terra batida mas eu nao vi nada disso) mas presenciei uma cena interessante: um gorila a perseguir uma banana no topo da montanha. Para alem de cozinhar, limpar, etc. o staff ainda tem tempo para subir tranquilamente mascarado quase ate ao topo da montanha, chegar la antes de nos, esperar ao frio, sair a correr do meio da floresta a gritar "socorro, socorro, ele quer-me comer" e descer a tempo de ter tudo preparado quando la chegamos.

P.P.S. - desculpem a falta de acentos e fotos (por enquanto) mas o meu computador nao anda bom, passar coisas da maquina para la para a Internet e' complicado.

Thursday, August 16, 2007

O MIT, apesar de ser conhecido como a melhor escola de engenharia do mundo, e uma universidade muito eclectica, com uma variedade muito grande de cadeiras e cursos a disposicao dos alunos (o que leva alguem a vir para o MIT tirar uma licenciatura em teatro ou escrita criativa e beyond me, mas enfim...). Ontem estava a passar pelo departamento de historia (fica no edificio onde estou a ter aulas) e deparei-me com um poster a anunciar esta cadeira

http://web.mit.edu/~21h.001/www/
21H.001 - How to stage a revolution

Nos proximos semestres supostamente vou poder escolher cadeiras de toda a universidade - sera que esta fica bem no curriculo quando me estiver a candidatar a alguma empresa? Nao sei e ate que ponto esta cadeira tera uma componente pratica.

P.S. - peco desculpa por nao fazer updates regulares mas no espaco de 48 horas avariou-se o meu computador (ainda esta avariado), o meu relogio parou, fiquei trancado de fora do meu quarto e a agua quente no meu chuveiro deixou de funcionar (isto para nao falar da avaria do portatil do meu colega de grupo minutos antes de apresentarmos o trabalho - o ficheiro nao estava em mais lado nenhum). Alias, com a sorte com que eu estou, ha uma boa probabilidade de, pelo simples facto de estarem a ler esta mensagem, o vosso computador vir a avariar tambem.

Tuesday, August 7, 2007

Tal como prometido...

...aqui vai um resumo dos primeiros dias.

Dia 1 (5 de Agosto, Domingo)

Chegado ao aeroporto bem cedinho, feito o check-in, passada a segurança e essas coisas passei para a zona de segurança, onde prontamente me deparei com o avião que me ia levar aos Estados Unidos, o Boeing 757-200 da US Airways de matrícula N205UW.


Atravessar o oceano num narrow-body não é a mesma coisa, digam o que disserem - a viagem pura e simplesmente não parece tão especial. O serviço também não é famoso (paga-se por headphones e vinho/cerveja, o filme mete o Ice Cube, etc.) mas a refeição que deram não era má.



Pena é terem feito o serviço de refeições com o horário do local de saída (almoço após a saída e lanche antes de aterrar)


E não ao contrário (o que ajuda a diminuir o jet-lag).

Chegado a Filadélfia, uma fila enorme para passar na imigração (agravada pelo facto de parecer não andar). Por sorte, a minha fila estava numa das pontas, pelo que quando abriram mais filas ao nosso lado deram vazão a quase toda a gente que estava na nossa. Contudo, não me consegui safar e fui mesmo parar ao gajo que estava a empatar a fila, um oficial da imigração com aspecto de nazi que parecia levar 3 vezes mais tempo a processar alguém na imigração que os colegas dele. Apesar de ter em cima da secretária um livro grande com um gajo na capa com um camuflado, um lenço à Arafat e um RPG chamado "Terrorist Minds" (será que ele usava mesmo aquilo para alguma coisa?) não me deu grandes chatices.
Passada a imigração, foi fila atrás de fila (alfândega, depósito de bagagens, segurança, etc.) até chegar à porta de embarque do avião que me ia levar até Boston, um 737-400 com um interior bastante degradado que se atrasou mais de uma hora na partida. Por volta das seis da tarde locais já tinha chegado a Boston (mas isso fica para outro dia e outro post que eu estou um bocado cansado - dormir sem estores na janela é complicado - e acrescentar fotografias ao final do texto aqui é complicado - elas parecem sempre ir parar ao início).



Monday, August 6, 2007

Um dia cansativo...

Estive o dia todo em correrias pelo que agora estou cansado e não tenho muito tempo para escrever. Vou só dizer que já tenho a minha carga toda comigo. As voltas que eu tive que dar para as conseguir levantar é que é outra coisa - tive que atravessar Boston inteira numa carrinha alugada, ir a um sítio perdido no meio das docas de South Boston (numa localização que poderia ser classificada no mínimo de sinistra) para carimbar o papel da alfândega, atravessar túneis pela faixa da "Via Verde" sem o dispositivo para isso, ...

Sunday, August 5, 2007

Chegada

E pronto, parece que estamos em Boston, não é verdade? Acabei de chegar há pouco (já arrumei as malas todos) e estou um bocado cansado, não me está a apetecer escrever agora muita coisa sobre a viagem e a casa (digamos apenas que o quarto estava, sem exagero, a uns 50 graus quando eu lá entrei), pelo que depois (talvez amanhã) dou mais pormenores.

Vou só referir que já percebi qual é a vantagem competitiva da US Airways no segmento transatlântico (basicamente é o preço) e que a viagem (7 horas e meia) é uma granda seca, mas felizmente tinha para me entreter o catálogo das compras em voo (quer dizer, compras em voo é um eufemismo - eu duvido que eles andem lá a passear no carrinho com rochas artificiais e estátuas de jardim). Aquilo é uma espécie de revista da Unibanco em ponto gigante e tem todo o tipo de gadgets que se possa imaginar (dos bem pensados, aos foleiros, passando pelos inúteis e acabando nos simplesmente ridículos). Folhear (e escrever sobre) aquilo são horas e horas de entretenimento garantido, e prometo que o vou fazer noutra altura (fanei um catálogo para isso) mas para já deixo-vos só com um teaser: sabiam que é possível comprar Bíblia que funcionam a energia solar (e não, não estou a gozar)?

Saturday, August 4, 2007

T minus pouco tempo

É já amanhã que me mudo de armas e bagagens para os EUA. Estive ontem a ver na televisão o Jay Leno, que tinha lá uma tipa qualquer chamada de Victoria casada com um David qualquer coisa e ao que parece o usual neste tipo de situações é ter dezenas de paparazzi à espera no aeroporto e um reality show a documentar a nossa adaptação ao novo país. Quando o "Miguel Valença Pires: Coming to America" estiver filmado eu depois digo-vos onde o podem encontrar, para ver cenas do género eu a ir a um banco abrir conta e coisas assim.