Friday, December 12, 2008

Há certos produtos que às vezes mais valia a pena não exportar...

Ontem fui a uma festa de aniversário/final de semestre aqui em Cambridge e numa bancada de cozinha vi uma escolha bastante diversificada de vinhos, cerveja, rum, tequila e outras bebidas. Para minha surpresa, contudo, a selecção mais proeminente no meio daquilo tudo eram 5 garrafas grandes de uma bebida portuguesa - nada mais nada menos que o notório bagaço (4 garrafas de São Vicente e uma garrafa de Vice-Rei).

Naturalmente que me questionei como é que aquelas garrafas tinham ido ali parar e qual a melhor forma de minimizar o impacto na reputação do país sem ser visto a entrar para o elevador com 5 garrafas de bagaço debaixo do braço. A coisa mais parecida com uma resposta ao meu inquérito foi "alguém trouxe isso aí para uma festa e deixou por cá, disseram que era bom" (ainda me interrogo quem terá sido) mas felizmente a maioria das pessoas pareceu esperta o suficiente para não tocar na coisa. A excepção foi o ucraniano de serviço, que misturou bagaço com mistura de Margarita (será que temos aí um novo cocktail, o Alentejo Livre?) para formar uma mistura que a 3 metros de distância e dentro de um copo me cheirava a mim mal.

Exportações são sempre boas para a economia nacional mas quando é que chegamos a um ponto em que dizemos que há certas coisas que são melhores ficarem em casa, certos esqueletos que é melhor ficarem no armário? Já não chega o Joaquim de Almeida?

Óptimas notícias para os amigos do ambiente

A Emirates Airlines vai lançar o primeiro voo de longo curso "verde", com uma rota destinada para reduzir o consumo de combustível 7,570 litros num vôo de 16 horas entre São Francisco e o Dubai.

http://www.flightglobal.com/articles/2008/12/09/319941/emirates-readies-for-fuel-savings-on-777-san-francisco.html

Agora quando voarem até ao Dubai para ficar na vossa casa construída numa ilha artificial por cima de uma barreira de coral, para poderem esquiar no meio do deserto a seguir a uma bela partida de golfe podem fazê-lo na confiança de que estão a ter o mínimo impacto no ambiente possível.

Sunday, October 12, 2008

Chamem-me génio, se quiserem

Eu normalmente negaria, por modéstia, mas neste caso acho que tenho mesmo que o reconhecer. Não é todos os dias que se tem uma ideia com o potencial de garantir a sobrevivência estratégica de Portugal por décadas.

Para quem não tem acompanhado, a Islândia está a atravessar uma grave crise financeira, com o estado a nacionalizar ou fechar todos os bancos e sem reservas de moeda estrangeira para repagar a dívida dos bancos que está a maturar (a dívida do sistema bancário é 12 vezes o PIB). A krona islandesa vale hoje em dia um terço do que valia à umas semanas atrás (um bónus para quem quer ir ver vulcões e gelo mas que causa inflação superior a 50%). A situação está tão má que o governo islandês viu-se obrigado a pedir um empréstimo de urgência aos russos, os últimos gajos a quem eu queria ficar a dever dinheiro.

Agora vem a parte engraçada - o que é que a Islândia tem de valor? Bacalhau. Aliás, é tão valioso que quase entravam em guerra com o Reino Unido há umas décadas atrás. Logo por curiosidade, bacalhau é também o recurso natural que é mais essencial a Portugal defender o acesso continuado (outros países preocupam-se com coisas sem importância, como petróleo). Ora, Portugal pode não ter muito dinheiro mas tem, por motivos históricos, a 13ª maior reserva de ouro do mundo, com 382.5 toneladas (vs as 2 toneladas da Islândia). Em vez de estar sem fazer nada num cofre qualquer no Carregado, a ganhar pó, esse ouro (ou pelo menos umas 20 toneladazitas dele) podia ser emprestado à Islândia durante algum tempo, com os juros a serem pagos em bacalhau (não necessariamente para ser consumido agora mas para garantir o futuro acesso às reservas).

Eu já há algum tempo que venho defendendo que a Marinha Portuguesa deveria ser dimensionada para permitir a invasão da Noruega caso alguma vez nos fosse negado o acesso ao bacalhau. Esta solução pacífica, para além de ser rentável por si só, permitiria poupar milhares de milhões de euros do orçamento do Ministério da Defesa ao longo das próximas décadas. Ficavam todos a ganhar (excepto os Russos).

Se me quiserem nomear para Ministro das Finanças ou dos Negócios Estrangeiros e das Pescas graças a esta brilhante ideia estou disposto a considerar a proposta.

Monday, October 6, 2008

Isto de ter 1000 canais na TV Cabo às vezes dá nisto

(ok, os 1000 canais não funcionam todos mas de qualquer forma são muitos)

Hoje estava a ver a programação da TV (no écrã) e reparei no conteúdo de um canal, que estava a mostrar um campeonato desse grande desporto de alta competição, "Rock, Paper, Scissors" (ou RPS, como eles gostavam de lhe chamar). A início fiquei um bocado incrédulo que umas boas dezenas de pessoas se pudessem juntar num casino para assistir às finais de um jogo de infantário. Contudo, havia lá pessoal que parecia estar a levar aquilo muito a sério - todos os concorrentes tinham alcunhas, alguns vídeos de introdução, o público parecia ter fãs, etc.

Contudo, a parte mais bizarra foi com certeza os comentadores, e a forma como eles relatavam os acontecimentos (ao que parece o jogo é como o xadrez, tem tácticas e as jogadas têm nomes). A uma dada altura desvio a minha atenção por uns instantes e quando volto só ouço "Uh, 4 rocks in a row. We call that the Angry Palestinian."

Conclusão: há gente de facto com demasiado tempo livre nas mãos.

P.S. - não que tenha muito a haver com este tópico, mas a televisão aqui tem tantos anúncios que até a Maçonaria tem os seus próprios spots de publicidade (abertamente).

Futuros obesos ou futuros pastilhados?

No outro dia, num fim-de-semana de manhã, fui passear a cadela de uma colega minha que estava fora da cidade ao Boston Common (a zona verde de referência aqui do burgo). Às tantas dou de caras com uma família com 3 rapazes pequenos (o mais velho dos quais devia ter cinco anos ou menos) que estava a passear. Enquanto os rapazes faziam festas à cadela reparei que dois dos míudos tinham na mão uma lata (grande) de Red Bull que estavam a beber.

Não sei se a Red Bull agora lançou um "Red Bull Kids" com sabor a morango mas quando eu era pequeno essa não era a minha ideia de um pequeno-almoço saudável.

Tuesday, September 23, 2008

Ok, há boas notícias e más notícias

As más notícias é que vão ser precisos mais de $700 biliões para salvar o sistema financeiro americano (e mundial...) do colapso.

http://www.time.com/time/politics/article/0,8599,1843642,00.html

As boas notícias é que basta imprimir sete notas destas.


Isto, claro está, se o governo americano decidir seguir o belo exemplo do Zimbabwe (nada como uma inflação de mais de 100.000% ao ano). Porque se empilharmos notas de $100 até uma altura de 2 metros vai ser precisa, pelas minhas contas, uma sala com 3.600 metros quadrados para guardar o dinheiro.

Sunday, September 14, 2008

Coisas da vida

Ainda sou um tipo novo (pelo menos mais novo que a média dos meus colegas) e não tenho assim muita experiência de trabalho. Do que estudei na escola e fiz no trabalho eu diria que existem quatro áreas/"mercados" sobre as quais posso falar confortavelmente, duas mais ou menos mainstream e duas mais niche: o mercado aeronáutico e corporate finance em banca, por um lado, e cartões de crédito/merchant acquiring e incêndios florestais/protecção civil, por outro.

A coisa estranha é que, por coincidência, em cadeiras que estou a tirar este semestre tenho oportunidade de aplicar mais ou menos intensamente a minha experiência e conhecimento anterior em todas estas quatro áreas não relacionadas, incluindo sectores mais específicos como incêndios florestais (graças ao Reverendo Stearman). Mais, no Verão acabei por aplicar bastante intensamente, em dois projectos diferentes, o meu conhecimento na área do merchant acquiring. A lição aqui é, há certas coisas que uma pessoa pensa que pode pôr para trás das costas, que nunca mais vai precisar na vida, mas a realidade não é bem assim.

Sunday, June 22, 2008

Formas de ingestão de medicamentos

Já tinha visto muitas formas de se tomar um medicamento. Comprimidos, xaropes, supositórios, fórmulas solúveis, etc. etc. etc. Contudo, nunca tinha visto uma que fiquei a conhecer agora - chocolate. É verdade, aqui nos EUA há um medicamento que é vendido (na farmácia) sob a forma de uma barra de chocolate da qual uma pessoa deve comer dois quadradinhos de cada vez. O problema é que o remédio em causa é um laxante, e comer uma barra (pequena) inteira é o equivalente a três dias de tratamento. Sou só eu ou há aqui um potencial para se pregar umas quantas partidas interessantes?

Wednesday, June 11, 2008

Os camionistas em Portugal

Esta conversa toda sobre o preço dos combustíveis já mete nojo e a quantidade de demagogia que para aqui vai (em Portugal e todo o mundo) leva-me sériamente a meter em causa a inteligência da raça humana. Não vou entrar por aí porque o que tenho para dizer provavelmente não caberia nesta página mas há um ponto que não posso deixar passar em claro.

Como seria de esperar lá vieram para a televisão os coitados dos camionistas a criticar os "grandes" que têem sempre as costas largas e continuam a trabalhar enquanto os outros paralisam (a palavra grandes claramente merece aspas porque a Luís Simões, maior empresa do mercado ibérico, tem uma quota de mercado de cerca de 2%). Por curiosidade lembrei-me de ir ver as estatísticas do sector, relativas a 2006, publicadas pelo INE (tiques que ficaram de consultor). Ao que parece, em Portugal existem 40.000 camiões a trabalhar por conta própria, representando 57% da frota nacional mas apenas 19% das toneladas x quilómetro. Mesmo que admitamos que alguns desses camiões por conta própria estão em empresas de 2/3 viaturas dá uma empresa de camionagem para cada cerca de 500 portugueses.

Mais impressionante do que isto, contudo, é ver a surpresa de alguns camionistas que vão para a comunicação social queixar-se que "os grandes que têm 600 camiões pagam as viaturas e os pneus para elas mais baratas". Ora porra, então queriam o quê? Querem que a Scania ou a Michelin sejam obrigadas a vender os produtos a um preço de tabela qualquer arbitrário ou quê? Se calhar só descobriram agora esse fenómeno básico chamado "economias de escala". Vai na volta a seguir vão descobrir que também podem reduzir todas as outras despesas associadas a uma empresa de camionagem - o suborno do GNR, a oficina que falsifica o tacómetro, o contabilista que martela as contas para garantir que ao final do ano não é apresentado lucro nenhum ao fisco, etc.

O problema de Portugal não é a Luis Simões, é não termos mais 10 iguais. Se calhar já era hora de se restringir o número de licenças dadas a empresas de camionagem, para as obrigar a fundir-se.

Thursday, June 5, 2008

A agricultura em Portugal / Europa

Estando a acompanhar de perto a discussão relativamente à greve dos pescadores (que querem mais apesar de o gasóleo pesqueiro efectivamente não pagar imposto quase nenhum) reparo cada vez com mais frequência na tremenda injustiça dos subsídios atribuídos ao sector agrícola nos países ocidentais. Eu ainda posso compreender (com alguma dificuldade) subsídios destinados a manter o estilo de vida rural, no sentido em que pagar a alguém para tratar de terrenos abandonados se calhar saía mais caro. Contudo, não posso aceitar que isso se traduza no destruir de agricultores no terceiro mundo, incapazes de competir com produtos importados subsidiados de forma maciça.

Porventura o mais ridículo dos casos é o do açucar. Que gastemos imenso dinheiro a subsidiar produtores de milho e de beterraba e paguemos o açucar a um preço várias vezes acima do que ele custa no Brasil, por exemplo, já não parece estranho. O ridículo é andarmos a insistir em produzir um produto para o qual claramente não temos condições naturais. Aliás, o facto de não podermos produzir açucar e outros produtos que tais foi precisamente uma das razões que nos lançou nos Descobrimentos. Imaginem só como seria essa conversa agora.

Infante Dom Henrique (IDH): Paizinho, está-me a apetecer fazer um bolo. Tens aí uma chávena de açucar?
Rei: Desculpa, não tenho aqui nada. Já foste pedir ali aos vizinhos?
IDH: Já. Eles dizem que agora estão muito ocupados a combater os mouros e não podem atender.
Rei: O quê, eles ainda andam à volta disso?
IDH: É verdade, aqueles gajos são mesmo assim. Emprestas-me dinheiro para eu montar uma escola de navegação de nível mundial e descobrir a Madeira e o Brasil, então?
Rei: Epá, não vai dar, já prometi o dinheiro para subsidiar ali uns produtores de beterraba.

E não haveria mais de 200 milhões de falantes de Português no mundo.

Saturday, May 24, 2008

Será que esta gente não tem noção de quão ridícula fica?

Ontem estava em NY a apanhar o metro para Chinatown (para apanhar o autocarro para Boston) quando vejo um grupo de jovens, digamos, urbanos, como a malta aqui lhe chama (em Portugal seriam conhecidos como "mitras"). Para além das calças largas e do boné três tamanhos acima (muito comum por aqui, com uma pala muito lisa capaz de tapar a radiação proveniente da explosão de uma supernova, quanto mais o sol) traziam o chamado "bling".

Em particular, havia no grupo um rapaz magrinho (que não devia ter mais do que 16 anos) que me fez lembrar um episódios dos Simpsons, dado o tamanho e variedade das obras de arte que trazia ao pescoço. A mais notória, contudo, era uma matrícula de carro do estado de Nova Iorque (em tamanho real - quase mais larga que o peito dele), pendurada nas pontas por uma corrente dourada grossa. Para quem tiver curiosidade, a matrícula dizia "Brooklyn".

Sunday, May 18, 2008

Kennebunkport

The WASPiest place on Earth.

Pois é, lá alugámos um carro e fomos fazer um passeio pela (muito bonita) estrada costeira até ao Maine, a parar num número de terras pelo caminho, e chegámos até Kennebunkport antes de voltar para trás. Para quem não sabe, Kennebunkport (no Maine) é conhecida por ser a terra da casa de férias da família Bush. Após o George e a Barbara nos terem recusado a entrada no seu complexo gigante em cima do mar (apesar da lagosta que trazíamos) decidimos ir dar um passeio pela vila.

Chamar àquilo uma terra é um bocado de um exagero - "Country Club marítimo" será porventura um termo mais adequado. As casas são gigantes mas sóbrias, tudo está assustadoramente arranjado, não há qualquer sinal de vida nas ruas e até os cães olham para ti com um ar de superioridade. O sítio todo dava a impressão de ser uma caricatura do Family Guy à família da Lois.

Thursday, April 10, 2008

Entrada para tuga

O metro aqui em Boston funciona com um sistema de portões para entrar, como o de Lisboa. Para quem, como eu, em vez de um passe semanal tem um cartão recarregável com dinheiro (ou para quem usa bilhetes normais) existem dois tipos de portões: os portões normais (onde se paga $1,70) e os que eu chamo os portões tuga (onde se paga $1,25 e supostamente para deficientes, apesar de nunca haver controlo).

Regra geral eu tento respeitar o espírito da lei e passar nos portões normais (a não ser que esteja com pouco saldo no cartão). Contudo, há certas estações de metro onde há entradas (em geral não a entrada principal) onde todos os portões são para deficientes, e eu quando entro por aí tenho mesmo que poupar os 45 cêntimos.

Agora o aspecto interessante é: essas entradas onde só há os portões para deficientes em geral só são acessíveis por escadas (não por elevador ou qualquer outro meio que possa ser usado por uma cadeira de rodas).

É Primavera!

Só para vos dar uma pequena ideia de como é o clima em Boston, estamos quase a meio de Abril e mesmo assim não se vê uma folha nas árvores (nem mesmo em alguns arbustos). Não levei roupas quentes para o Brasil na esperança de que quando voltasse o tempo já estivesse melhor e a consequência natural foi que ia gelando no caminho de volta do aeroporto.

O resultado é que, quando temos um dia como o de hoje, com sol e quase 20º de temperatura (apesar do vento) as pessoas parece que saem do estado de hibernação e ficam malucas. Vêm para a rua em t-shirt, andam a passear com um sorriso desmedido nos lábios e parece que não conseguem falar de outra coisa senão o tempo (e não por uma questão de cortesia victoriana). Como é natural, ninguém se dá ao trabalho de olhar para o estado do tempo amanhã e reparar que vão estar menos de 10 graus outra vez e o resultado natural vai ser muita gente desapontada.

Friday, April 4, 2008

Corporate Social Responsibility

A mania da "Corporate Social Responsibility" (CSR) está muito na moda. Toda a empresa respeitável (e mesmo as não respeitáveis) hoje em dia publicita as suas acções de CSR, imprime relatórios gigantescos a cores para mostrar como se preocupam com o ambiente e trabalhadores, etc. Uma verdadeira indústria nasceu à volta desta moda, desde consultores a fundos de investimento dedicados a empresas "responsáveis". Pertencer ao Dow Jones Sustainability Index (DJSI) é considerado o maior marco de honra, um sinal de elevados standards éticos e práticas morais, e algo que possibilita alguns investidores institucionais "limpos" a investir na empresa.

Hoje ouvi discursar o Gary Loveman, o CEO da Harrah's, que se orgulhava muito da sua empresa pertencer ao DJSI, por dar muito dinheiro para caridade, etc. Até aí tudo normal, não fosse o pequeno pormenor da indústria onde a companhia opera. A Harrah's é uma das maiores empresas da indústria do jogo a nível mundial, com mais de 50 casinos só nos Estados Unidos.

Se calhar os critérios para pertencer ao índice são industry-specific, e no caso da indústria deles apenas significam "fazem um esforço por não rebentar muitas rótulas".

Thursday, March 13, 2008

Inacreditável

É sempre bom ver o nosso banco promover subversões às mais elementares regras de civismo.


Sunday, March 9, 2008

Se calhar não devias estar a dizer isso agora...

O MIT (ou melhor, alunos do MIT) organiza todos os anos um concurso de empreendedorismo chamado MIT $100K (que na verdade começou como o MIT $10K já atribui prémios que se aproximam mais do meio milhão de dólares). Este concurso, largamente reconhecido como o maior e mais prestigiado concurso de empreendedorismo nos EUA, é destinado a trazer tecnologias desenvolvidas nos laboratórios do MIT para a esfera comercial e já foi responsável por lançar empresas que se tornaram grandes sucessos como a Akamai (eu sei que nunca ouviram falar dela mas se estão a ler este site a probabilidade de que já a tenham usado é alta).

Este ano, pela primeia vez, houve um prémio dedicado especificamente a start-ups no sector aeroespacial (um dos 7 prémios sectoriais específicos, para além do grande prémio), apesar de desta vez ter tido apenas 5 participantes (não totalmente surpreendente, dado o baixo nível de empreendedorismo no sector aeroespacial em geral). Uma vez que o principal organizador desta track também pertencia a uma equipa que estava a concorrer pediram-me para ajudar no dia em que iam ser escolhidos os semi-finalistas, recebendo os juízes e ajudando em tudo o que fosse necessário.

Um dos juízes era um capitalista de risco que tinha alguns investimentos no sector aeroespacial, incluindo na Eclipse Aviation (a empresa que lançou o mercado dos very light jets), apesar de esse não ser o foco dele. Na recepção final, enquanto conversávamos sobre a Eclipse e os problemas que eles tinham tido, ele vira-se para mim e diz "Só depois de eu ter investido naquela empresa é que eu soube do velho ditado na aviação, 'a melhor maneira de uma pessoa se tornar um milionário na aviação é começar como um bilionário' ". Não tenho bem a certeza se esse é o tipo de coisas que um juiz num concurso destinado a promover o empreendedorismo no sector aeroespacial deva andar a dizer...

Saturday, March 8, 2008

As semelhanças com Portugal

Quem disse que em Boston era tudo diferente? Acabei de passar outra vez na Vassar Street, uma rua perto da minha casa que vai ter à Massachussets Avenue, a avenida principal de Cambridge.

A Vassar Street tem estado sujeita a umas obras relativamente simples, não tenho a certeza mas penso que tenha apenas a haver com a instalação de canos ou cabos subterrâneos, ou qualquer coisa do género. A rua leva cerca de 10 minutos a atravessar a pé mas a verdade é que as obras duram desde Agosto e não há fim à vista. É normal ver lá máquinas de construção, cones, barreiras de cimento, etc. mas pessoas a trabalhar nunca lá vi nenhuma - quase que faz lembrar a portagem dos Carvalhos, perto do Porto. Se algum dia passar por lá e vir um gajo com uma pá na mão a cavar rodeado por 10 mânfios a mandar bitaites já fico a saber que o modus operandi da construção civil portuguesa já chegou a Boston.

Não sabia que já eram independentes...




Já agora, o título do menu drop-down (ocultado) é "Country of residence for tax purposes" (País de residência para efeitos fiscais).

Wednesday, March 5, 2008

Coisas que ainda me conseguem chocar

O estado do Massachussets tem possivelmente uma das políticas de "saúde" mais neo-liberais que se possam imaginar, sendo obrigatório para todos os cidadãos terem um seguro de saúde privado sob pena de pagarem multas severas nos impostos. Como é que é possível, do ponto de vista constitucional, um governo estadual obrigar um cidadão a dar parte do seu rendimento (mesmo que não tenha nenhum) a uma empresa privada é outro assunto...

Continuando: hoje de manhã tive uma aula de uma cadeira sobre a aplicação de métodos numéricos/quantitativos a problemas complexos de gestão (na verdade não se aprende nada naquela aula, é mais o professor a vangloriar-se de coisas que fez ao longo da vida, mas enfim). A aula de hoje era sobre uma empresa, onde uns alunos de doutoramento tinham feito um projecto, que basicamente se dedicava a recolher informação médica de várias empresas de seguro de saúde e correr análises para "estimar os custos de tratamento futuros para melhorar a qualidade do serviço" (que é como quem diz "Ai apareceu-te cancro? Então pagas o prémio que a gente te disser e é se queres"). A empresa tem uma base de dados actualizada com informação (basicamente o registo médico quase todo) sobre 9.1 milhões de pacientes de várias fontes.

Fiquei tão chocado com o que ouvi na aula que fui imediatamente ao site do meu seguro de saúde (fornecido pelo MIT) para entrar em contacto com eles no sentido de lhes lembrar, nos termos mais veementes possíveis, que o meu registo médico (que eles têm na forma de facturas detalhadas de todos os procedimentos e diagnósticos das consultas ao médico) é algo privado e sujeito a protecção, e pedir uma lista de todas as entidades externas com quem eles partilharam essa informação, incluindo maneiras de ser retirado dessas bases de dados. Como boa entidade que vive na margem da moralidade que são, contudo, a Blue Cross / Blue Shield recusa-se a publicar no site deles um e-mail genérico para uma pessoa poder entrar em contacto, sendo só possível, a muito custo, encontrar moradas para situações muito específicas e números de call-center onde, por certo, alguém em Bangalore que mal fala Inglês vai atender sem fazer o mínimo de ideia do que eu estou a falar.

Saturday, March 1, 2008

Há gajos que abusam...

Quase toda a gente que já frequentou uma universidade teve a necessidade de, por qualquer motivo, comer alguma coisa durante uma aula. Às vezes não se teve tempo para almoçar, acordou-se tarde e não se conseguiu tomar o pequeno-almoço ou algo assim. Nessas situações uma sandes e uma bebida, ou um bolo e um café, desde que não prejudique a aula é geralmente considerado aceitável pela maioria dos professores (especialmente se for num anfiteatro grande, onde não incomoda tanto).

Contudo, há certas pessoas que abusam. No primeiro semestre tinha uma colega minha que volta não torna trazia um bagel do café ao lado num pratinho e se dedicava, no início da aula, a espalhar os conteúdos de uma embalagem individual de queijo-creme com uma faca de plástico. Este semestre, no entanto, encontrei algo que supera tudo.

Numa aula que eu tenho sextas-feiras às 9 da manhã (numa sala pequena, com cerca de 10 alunos, btw) um tipo que não é da business-school (portanto MIT a sério) tem por hábito tomar o pequeno-almoço. Para tal, traz de casa num tupperware uma quantidade apreciável de cereais que se apressa a regar com a embalagem de litro de leite que traz com ele antes de os comer com uma colher de plástico. Quando lhe apetece variar, a embalagem de meio galão (quase 2 litros) de sumo de laranja natural do supermercado é um bom substituto. Quase que estou à espera de o ver na próxima aula com farinha e um rolo da massa para amassar pão em cima da secretária antes de o cozinhar num forno de campismo (uma vez que facas grandes e animais vivos não são encorajados no recinto do MIT presumo que ao menos esteja salvo de uma visão de bacon do-it-yourself).

Tuesday, January 29, 2008

Para os nossos amigos monárquicos e outros espanhófilos

Não fui eu que inventei mas não deixa de ser verdade.


Wednesday, January 23, 2008

Andar no MIT às vezes dá para ver algumas destas coisas interessantes

Tradicionalmente, no mês de Janeiro, o MIT não tem aulas (talvez por causa do frio, ninguém sabe), que são substituídas por uma coisa opcional chamada IAP (Independent Activities Period). Basicamente, durante este período qualquer pessoa ou grupo ligado ao MIT pode propor a realização de palestras, cursos, visitas, workshops, competições, etc., para crédito ou sem ser para crédito, que vão de temas como "nuclear fusion for dummies" a caças ao tesouro e lições de marcenaria (e agora que penso nisso, também de maçonaria).

Ontem, contudo, estive a assistir a uma conferência que existe todos os anos intitulada "some funny things happened in the way to the Moon", dada por um professor do MIT que foi um dos responsáveis por criar o conceito de navegação celestial para naves espaciais (a teoria por detrás dos actuais Star Trackers) e liderou o desenvolvimento do sistema de navegação das missões Apollo. Este ano a palestra contou com a participação especial do Bob Seaman, mais um antigo aluno e investigador do MIT que foi o Vice-Director da NASA durante a ida à lua e possivelmente uma das poucas pessoas no planeta que parecia ainda mais velho que o palestrante principal. Para além de vê-los contar histórias casualmente sobre o Kennedy, o Von Braun, o Buzz Aldrin e o Charles Stark Draper foi interessante ouvir alguns dos factos sobre o programa.

Para o sistema poder funcionar autonomamente da ligação à terra (havia medo que os russos fizessem o jamming das comunicações) foi preciso desenvolver uma coisa impensável à altura, um computador que aguentasse o ambiente do espaço. O computador que desenvolveram, com apenas 30 quilos de peso, tinha uns impressionantes 74kB de ROM e 4kB de RAM, com um tempo de resposta de 12 microsegundos (que, parecendo que não, dá uma velocidade de relógio inferior a 0.1MHz). Para aguentar a viagem tinha uma memória de "estado sólido", que na altura representava um emaranhado de fios metálicos que era programado por uma tecelã e demorava 6 semanas para a implementação de uma alteração no software. Mesmo assim, o computador conseguia ser mais preciso que o operador - o navegador da Apollo 8, Jim Lovell (o mesmo tipo da Apollo 13) teve que passar algum tempo em Cambridge a tirar medidas para o computador ser calibrado para os erros que ele iria introduzir no sistema. A segurança em torno do projecto era tão grande que no MIT Instrumentation Lab até as tabelas trigonométricas eram classificadas, mas isso não impediu os russos de publicar uma edição não autorizada em russo do livro do Battin (que, ao menos, teve a decência de manter a ilustração da capa e manter o nome dele, escrito em cirílico).

Monday, January 21, 2008

Obrigado por me ajudares...

Na quinta-feira estava em Nova Iorque a jantar com um amigo meu que anda em Columbia e uns colegas dele de MBA (espanhóis) quando veio à baila o tema da monarquia. Quando referi que a monarquia espanhola mais não era que uma ditadura entraram em modo completamente histérico, a dizer que eu não sabia do que estava a falar e coisas assim (mesmo apesar de eu ter explicado que não era nada de pessoal contra a Espanha mas simplesmente o facto de, pela sua própria natureza, todas as monarquias serem ditaduras).

Um deles decidiu invocar argumentos do tempo da Roma antiga, a dizer que um ditador não era um governante não eleito mas sim um governante com poder absoluto, independentemente da forma como chegou ao poder ou de quanto tempo vai lá estar (o que levanta a pergunta - será que segundo essa definição alguma vez existiu um ditador na história?). Como, segundo ele, o rei de Espanha não tinha poder nenhum (apesar, de, paradoxalmente, dizer "porque no te calas?" ao Chavez estar englobado no âmbito daqueles poderes que ele não tem, segundo os espanholitos que disseram que o rei estava apenas a fazer o trabalho dele) não podia ser considerado um ditador. Contudo, o argumento mais genial veio da boca do colega dele, que afirmou que o rei de Espanha não era um ditador porque, segundo ele, "se houvesse um referendo em Espanha o rei perdia e a monarquia acabava".

Após olhar para ele durante alguns segundos sem conseguir acreditar na imensidão da estupidez do argumento que estava a ouvir lá consegui reunir forças para lhe perguntar se ele, sinceramente, não via como esse argumento só reforçava (e de que maneira!) o meu ponto sem me desatar a rir na cara dele.

Monday, January 7, 2008

As diferenças para os EUA

Estava com um bocado de receio, ao passar 3 semanas de férias em Portugal depois de 4 meses e meio fora, de já não me habituar às vistas, lembrar dos sítios ou dar com os costumes. Um breve passeio de carro relembrou-me do perigo de uma pessoa se fazer à estrada e das consequências para os nervos mas nada como a nova lei do tabaco para me fazer chegar à conclusão que, de facto, nada mudou nos costumes.

Não é só o facto de uma promessa de uma lei boa e moderna ter sido assassinada para se deixar fumar em recintos fechados, sob certas condições (tamanho, ventilação, etc.). Isso já seria de esperar, tendo em conta que a maior parte dos deputados são demasiado politicamente fracos para levar em diante uma verdadeira proibição de incomodar os outros. O mais chocante tem sido mesmo a verdadeira campanha anti-lei anti-tabágica desencadeada pelos órgãos de comunicação social (onde a maioria dos empregados, ou pelo menos os jornalistas, são notóreos fumadores). Durante dias a fio (e ainda agora) os telejornais estavam literalmente cheios de notícias em tom de crítica sobre a nova lei, chegando quase a meia-hora por jornal: era a pessoa à porta do emprego, o restaurante onde o pai de família não podia puxar do charuto, o bar ou café que estava a perder clientes, a discoteca onde estava a ser assinada uma petição, etc. etc. etc. A principal peculiaridade destas peças de "reportagem" era, contudo, o facto de só entrevistarem fumadores ou donos de negócios que estavam naturalmente contra a lei. Cheguei mesmo a ver uma entrevista a um grande distribuidor de tabaco (no Norte, claro! - afinal era na RTP...) que dizia em sinal de protesto algo do género "se não alteram a lei rapidamente muitos negócios de distribuição de tabaco vão à falência".

As diferenças? Nos EUA uma lei quando é introduzida é para se cumprir. Em Portugal é para se ignorar com o apoio tácito e conivência da comunicação social até ser de novo alterada pela Assembleia da República porque é uma "lei que não se consegue fazer cumprir" (independentemente do facto de se conseguir fazer cumprir noutros países). Não sei quando vou estar de volta a Portugal mas estou de momento a aceitar apostas em como da próxima vez em que cá meter os pés a lei já foi alterada de forma a se poder fumar à vontade.