Tuesday, January 29, 2008

Para os nossos amigos monárquicos e outros espanhófilos

Não fui eu que inventei mas não deixa de ser verdade.


Wednesday, January 23, 2008

Andar no MIT às vezes dá para ver algumas destas coisas interessantes

Tradicionalmente, no mês de Janeiro, o MIT não tem aulas (talvez por causa do frio, ninguém sabe), que são substituídas por uma coisa opcional chamada IAP (Independent Activities Period). Basicamente, durante este período qualquer pessoa ou grupo ligado ao MIT pode propor a realização de palestras, cursos, visitas, workshops, competições, etc., para crédito ou sem ser para crédito, que vão de temas como "nuclear fusion for dummies" a caças ao tesouro e lições de marcenaria (e agora que penso nisso, também de maçonaria).

Ontem, contudo, estive a assistir a uma conferência que existe todos os anos intitulada "some funny things happened in the way to the Moon", dada por um professor do MIT que foi um dos responsáveis por criar o conceito de navegação celestial para naves espaciais (a teoria por detrás dos actuais Star Trackers) e liderou o desenvolvimento do sistema de navegação das missões Apollo. Este ano a palestra contou com a participação especial do Bob Seaman, mais um antigo aluno e investigador do MIT que foi o Vice-Director da NASA durante a ida à lua e possivelmente uma das poucas pessoas no planeta que parecia ainda mais velho que o palestrante principal. Para além de vê-los contar histórias casualmente sobre o Kennedy, o Von Braun, o Buzz Aldrin e o Charles Stark Draper foi interessante ouvir alguns dos factos sobre o programa.

Para o sistema poder funcionar autonomamente da ligação à terra (havia medo que os russos fizessem o jamming das comunicações) foi preciso desenvolver uma coisa impensável à altura, um computador que aguentasse o ambiente do espaço. O computador que desenvolveram, com apenas 30 quilos de peso, tinha uns impressionantes 74kB de ROM e 4kB de RAM, com um tempo de resposta de 12 microsegundos (que, parecendo que não, dá uma velocidade de relógio inferior a 0.1MHz). Para aguentar a viagem tinha uma memória de "estado sólido", que na altura representava um emaranhado de fios metálicos que era programado por uma tecelã e demorava 6 semanas para a implementação de uma alteração no software. Mesmo assim, o computador conseguia ser mais preciso que o operador - o navegador da Apollo 8, Jim Lovell (o mesmo tipo da Apollo 13) teve que passar algum tempo em Cambridge a tirar medidas para o computador ser calibrado para os erros que ele iria introduzir no sistema. A segurança em torno do projecto era tão grande que no MIT Instrumentation Lab até as tabelas trigonométricas eram classificadas, mas isso não impediu os russos de publicar uma edição não autorizada em russo do livro do Battin (que, ao menos, teve a decência de manter a ilustração da capa e manter o nome dele, escrito em cirílico).

Monday, January 21, 2008

Obrigado por me ajudares...

Na quinta-feira estava em Nova Iorque a jantar com um amigo meu que anda em Columbia e uns colegas dele de MBA (espanhóis) quando veio à baila o tema da monarquia. Quando referi que a monarquia espanhola mais não era que uma ditadura entraram em modo completamente histérico, a dizer que eu não sabia do que estava a falar e coisas assim (mesmo apesar de eu ter explicado que não era nada de pessoal contra a Espanha mas simplesmente o facto de, pela sua própria natureza, todas as monarquias serem ditaduras).

Um deles decidiu invocar argumentos do tempo da Roma antiga, a dizer que um ditador não era um governante não eleito mas sim um governante com poder absoluto, independentemente da forma como chegou ao poder ou de quanto tempo vai lá estar (o que levanta a pergunta - será que segundo essa definição alguma vez existiu um ditador na história?). Como, segundo ele, o rei de Espanha não tinha poder nenhum (apesar, de, paradoxalmente, dizer "porque no te calas?" ao Chavez estar englobado no âmbito daqueles poderes que ele não tem, segundo os espanholitos que disseram que o rei estava apenas a fazer o trabalho dele) não podia ser considerado um ditador. Contudo, o argumento mais genial veio da boca do colega dele, que afirmou que o rei de Espanha não era um ditador porque, segundo ele, "se houvesse um referendo em Espanha o rei perdia e a monarquia acabava".

Após olhar para ele durante alguns segundos sem conseguir acreditar na imensidão da estupidez do argumento que estava a ouvir lá consegui reunir forças para lhe perguntar se ele, sinceramente, não via como esse argumento só reforçava (e de que maneira!) o meu ponto sem me desatar a rir na cara dele.

Monday, January 7, 2008

As diferenças para os EUA

Estava com um bocado de receio, ao passar 3 semanas de férias em Portugal depois de 4 meses e meio fora, de já não me habituar às vistas, lembrar dos sítios ou dar com os costumes. Um breve passeio de carro relembrou-me do perigo de uma pessoa se fazer à estrada e das consequências para os nervos mas nada como a nova lei do tabaco para me fazer chegar à conclusão que, de facto, nada mudou nos costumes.

Não é só o facto de uma promessa de uma lei boa e moderna ter sido assassinada para se deixar fumar em recintos fechados, sob certas condições (tamanho, ventilação, etc.). Isso já seria de esperar, tendo em conta que a maior parte dos deputados são demasiado politicamente fracos para levar em diante uma verdadeira proibição de incomodar os outros. O mais chocante tem sido mesmo a verdadeira campanha anti-lei anti-tabágica desencadeada pelos órgãos de comunicação social (onde a maioria dos empregados, ou pelo menos os jornalistas, são notóreos fumadores). Durante dias a fio (e ainda agora) os telejornais estavam literalmente cheios de notícias em tom de crítica sobre a nova lei, chegando quase a meia-hora por jornal: era a pessoa à porta do emprego, o restaurante onde o pai de família não podia puxar do charuto, o bar ou café que estava a perder clientes, a discoteca onde estava a ser assinada uma petição, etc. etc. etc. A principal peculiaridade destas peças de "reportagem" era, contudo, o facto de só entrevistarem fumadores ou donos de negócios que estavam naturalmente contra a lei. Cheguei mesmo a ver uma entrevista a um grande distribuidor de tabaco (no Norte, claro! - afinal era na RTP...) que dizia em sinal de protesto algo do género "se não alteram a lei rapidamente muitos negócios de distribuição de tabaco vão à falência".

As diferenças? Nos EUA uma lei quando é introduzida é para se cumprir. Em Portugal é para se ignorar com o apoio tácito e conivência da comunicação social até ser de novo alterada pela Assembleia da República porque é uma "lei que não se consegue fazer cumprir" (independentemente do facto de se conseguir fazer cumprir noutros países). Não sei quando vou estar de volta a Portugal mas estou de momento a aceitar apostas em como da próxima vez em que cá meter os pés a lei já foi alterada de forma a se poder fumar à vontade.