Wednesday, June 11, 2008

Os camionistas em Portugal

Esta conversa toda sobre o preço dos combustíveis já mete nojo e a quantidade de demagogia que para aqui vai (em Portugal e todo o mundo) leva-me sériamente a meter em causa a inteligência da raça humana. Não vou entrar por aí porque o que tenho para dizer provavelmente não caberia nesta página mas há um ponto que não posso deixar passar em claro.

Como seria de esperar lá vieram para a televisão os coitados dos camionistas a criticar os "grandes" que têem sempre as costas largas e continuam a trabalhar enquanto os outros paralisam (a palavra grandes claramente merece aspas porque a Luís Simões, maior empresa do mercado ibérico, tem uma quota de mercado de cerca de 2%). Por curiosidade lembrei-me de ir ver as estatísticas do sector, relativas a 2006, publicadas pelo INE (tiques que ficaram de consultor). Ao que parece, em Portugal existem 40.000 camiões a trabalhar por conta própria, representando 57% da frota nacional mas apenas 19% das toneladas x quilómetro. Mesmo que admitamos que alguns desses camiões por conta própria estão em empresas de 2/3 viaturas dá uma empresa de camionagem para cada cerca de 500 portugueses.

Mais impressionante do que isto, contudo, é ver a surpresa de alguns camionistas que vão para a comunicação social queixar-se que "os grandes que têm 600 camiões pagam as viaturas e os pneus para elas mais baratas". Ora porra, então queriam o quê? Querem que a Scania ou a Michelin sejam obrigadas a vender os produtos a um preço de tabela qualquer arbitrário ou quê? Se calhar só descobriram agora esse fenómeno básico chamado "economias de escala". Vai na volta a seguir vão descobrir que também podem reduzir todas as outras despesas associadas a uma empresa de camionagem - o suborno do GNR, a oficina que falsifica o tacómetro, o contabilista que martela as contas para garantir que ao final do ano não é apresentado lucro nenhum ao fisco, etc.

O problema de Portugal não é a Luis Simões, é não termos mais 10 iguais. Se calhar já era hora de se restringir o número de licenças dadas a empresas de camionagem, para as obrigar a fundir-se.

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