Wednesday, March 5, 2008

Coisas que ainda me conseguem chocar

O estado do Massachussets tem possivelmente uma das políticas de "saúde" mais neo-liberais que se possam imaginar, sendo obrigatório para todos os cidadãos terem um seguro de saúde privado sob pena de pagarem multas severas nos impostos. Como é que é possível, do ponto de vista constitucional, um governo estadual obrigar um cidadão a dar parte do seu rendimento (mesmo que não tenha nenhum) a uma empresa privada é outro assunto...

Continuando: hoje de manhã tive uma aula de uma cadeira sobre a aplicação de métodos numéricos/quantitativos a problemas complexos de gestão (na verdade não se aprende nada naquela aula, é mais o professor a vangloriar-se de coisas que fez ao longo da vida, mas enfim). A aula de hoje era sobre uma empresa, onde uns alunos de doutoramento tinham feito um projecto, que basicamente se dedicava a recolher informação médica de várias empresas de seguro de saúde e correr análises para "estimar os custos de tratamento futuros para melhorar a qualidade do serviço" (que é como quem diz "Ai apareceu-te cancro? Então pagas o prémio que a gente te disser e é se queres"). A empresa tem uma base de dados actualizada com informação (basicamente o registo médico quase todo) sobre 9.1 milhões de pacientes de várias fontes.

Fiquei tão chocado com o que ouvi na aula que fui imediatamente ao site do meu seguro de saúde (fornecido pelo MIT) para entrar em contacto com eles no sentido de lhes lembrar, nos termos mais veementes possíveis, que o meu registo médico (que eles têm na forma de facturas detalhadas de todos os procedimentos e diagnósticos das consultas ao médico) é algo privado e sujeito a protecção, e pedir uma lista de todas as entidades externas com quem eles partilharam essa informação, incluindo maneiras de ser retirado dessas bases de dados. Como boa entidade que vive na margem da moralidade que são, contudo, a Blue Cross / Blue Shield recusa-se a publicar no site deles um e-mail genérico para uma pessoa poder entrar em contacto, sendo só possível, a muito custo, encontrar moradas para situações muito específicas e números de call-center onde, por certo, alguém em Bangalore que mal fala Inglês vai atender sem fazer o mínimo de ideia do que eu estou a falar.

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